Na última quarta-feira, dia 27, Serrinha vivenciou uma noite histórica e emocionante com a realização do Prêmio Odessi 2024, evento que celebrou as histórias de resistência, luta e protagonismo da comunidade negra do município e da região. Organizado como parte das atividades do Novembro Negro de Serrinha, a premiação reuniu líderes religiosos, ativistas, artistas, educadores e representantes culturais que, com suas trajetórias inspiradoras, têm transformado a realidade local e fortalecido as raízes culturais afro-brasileiras, reconhecendo suas contribuições para a educação antirracista, a preservação cultural e o combate à intolerância religiosa.
O Troféu Odessi emerge como um símbolo de reconhecimento à resistência, força e contribuições do povo negro em Serrinha, Bahia. Nascido do movimento negro local, o prêmio presta homenagem a figuras significativas da comunidade negra que, embora tenham feitos notáveis, frequentemente enfrentam invisibilidade e desvalorização por parte da sociedade.
Inspirado pela trajetória da Yalorixá Maria José, conhecida como Odessi no Candomblé, o troféu carrega em si o peso de uma história de ancestralidade e luta. Yá Odessi, a mais velha de Serrinha, simboliza a sabedoria e a força da tradição afro-brasileira.
O evento faz parte do Novembro Negro de Serrinha, organizado pelo Movimento Negro Afro Jamaica e em parceria com diversos coletivos e instituições, como o Movimento de Mulheres Negras Dandaras do Sisal, o Coletivo LGBTI+ Flores do Sisal, e a Universidade do Estado da Bahia, entre outros.
O evento aconteceu no auditório da UNEB Campus XI Serrinha e contou com a presença de um público diverso, que prestigiou com entusiasmo cada momento da cerimônia. Sob uma atmosfera de respeito, alegria e valorização das identidades negras, o Prêmio Odessi reconheceu 17 personalidades de Serrinha, destacando suas contribuições em áreas como educação, cultura, direitos humanos, comunicação, religião e muito mais.
Entre os homenageados, nomes como Binha da Saúde, referência na saúde comunitária e na liderança local; Mestre Júnior, um dos principais nomes da capoeira no território do Sisal; Nêgo Violeiro, guardião das tradições do samba de roda; Yalorixá Conceição de Oxóssi, líder religiosa e coordenadora de projetos culturais; e Jamaica, coordenador do Movimento Negro Afro Jamaica de Serrinha, que há 16 anos promove o Novembro Negro com paixão e resistência.
A cerimônia foi marcada por momentos de emoção, com apresentações culturais que exaltaram a riqueza das expressões afro-brasileiras, como rodas de samba, cânticos religiosos de matriz africana e manifestações artísticas que celebraram a força do povo negro. O ponto alto da noite foi a entrega do troféu surpresa a Jamaica, que emocionado destacou: “Este prêmio não é só meu, mas de todos que lutam diariamente para manter vivas nossa cultura, nossa história e nossos direitos.”
Os organizadores destacaram o sucesso do evento e a importância de iniciativas como o Prêmio Odessi para a promoção da igualdade racial e a valorização da cultura negra. “Este é um momento de reconhecimento, mas também de reflexão sobre o quanto ainda precisamos avançar na luta contra o racismo e as desigualdades. A noite de hoje é um lembrete da força e do talento que existem em nossa comunidade,” afirmou Jarele Rocha, um dos responsáveis pela organização.
O Prêmio Odesse 2024 reafirmou o compromisso de Serrinha com a preservação da memória e das tradições afro-brasileiras e deixou um legado de inspiração e orgulho para as futuras gerações. Conheça a seguir as pessoas homenageadas:
1. LGBT – Andreh Ventura: um exemplo de dedicação à arte e à educação. Andreh é estudante de licenciatura em teatro pela UNICESUMAR e coordenador do Grupo Cenas Produções Artísticas. Com uma formação sólida em teatro, dança e expressão corporal pela Escola de Arte Fernando Peltier, Andreh tem ministrado oficinas e cursos em diversas cidades da nossa região, sempre com o intuito de transformar e inspirar através da arte. Seu trabalho na formação de novos talentos é uma verdadeira contribuição para a construção de uma sociedade mais inclusiva e sensível às diversidades.
2. Terreiro Angola – Maria Tanueiro (Abá Luassi de Oxóssi): também conhecida como Abá Luassi de Oxóssi. Ela iniciou sua trajetória religiosa em 1971, no candomblé Angola, com o Pai Pedro, um dos primeiros sacerdotes de religiões de matriz africana em Serrinha. Mãe Maria Tanueiro é uma Zeladora de Santo e uma das figuras mais respeitadas na nossa cidade. Sua trajetória espiritual e de liderança no candomblé é marcada por coragem, sabedoria e profundo amor pela tradição. Ela é também uma referência para as novas gerações que buscam se conectar com suas raízes e manter viva a memória ancestral.
3. Terreiro Mãe Gorda: a Ekedy mais velha da nossa cidade. Mãe Gorda tem sido uma forte guardiã das tradições de matriz africana, exercendo um papel fundamental dentro de seu terreiro e na comunidade. Sua trajetória religiosa e social é um exemplo de compromisso com a preservação da cultura afro-brasileira. Sua história de fé, resistência e amor ao próximo é uma inspiração para todos nós.
4. Trabalhadora Gari – Dona Rosalinda: também conhecida como Rosa, a Gari mais velha de Serrinha. Rosa é uma verdadeira heroína do trabalho e da comunidade. Sua história é marcada pela dedicação e pela persistência, cuidando da limpeza das ruas da nossa cidade por anos. Ela é uma mulher guerreira, que criou sua família com muito esforço e amor, sendo um exemplo de força para todos. Sua trajetória de vida nos ensina que todo trabalho é digno, e cada contribuição, por menor que seja, é valiosa para a construção de uma cidade melhor.
5. Saúde – Binha da Saúde: uma mulher que, com sua trajetória de vida, se dedica ao cuidado da saúde da comunidade e ao bem-estar de todos ao seu redor. Nascida na Fazenda Baunilha, em Serrinha, Binha começou sua jornada no trabalho desde jovem, se destacando na culinária e no esporte, principalmente no judô. Com muita persistência, ela conseguiu se tornar Agente Comunitária de Saúde, sendo uma das principais referências de saúde no bairro Vista Alegre. Além disso, ela também é uma líder comunitária que se envolve em movimentos sociais para garantir mais direitos e melhores condições para a população.
6. Cultura – Diomedes Raimundo Gomes de Almeida Júnior (Mestre Júnior): uma verdadeira lenda viva da cultura popular e da capoeira no território do Sisal. Ele iniciou sua jornada na capoeira em 1986, aos 6 anos, e se tornou um mestre respeitado e um verdadeiro guardião da cultura afro-brasileira. Fundador do Centro Cultural de Capoeira Lendário de Palmares, Mestre Júnior é um dos grandes responsáveis pela preservação e promoção da capoeira, além de ser um dos criadores do evento “Vou Tocar São Bento”, um dos maiores eventos estaduais de capoeira. Mestre Júnior também se destaca por sua ação social e cultural, promovendo a inclusão e a educação através da capoeira.
7. Educação – Professor Luizinho: uma figura essencial na educação de Serrinha. Com formação em Pedagogia pela UNEB e História pela FAEL, Luizinho tem se dedicado à educação de qualidade no município, sendo professor na Escola María Ludernir. Além de sua atuação pedagógica, ele também foi um líder estudantil e esteve à frente de importantes movimentos sociais e educacionais. Seu trabalho no Movimento Negro e em projetos como a Universidade na Comunidade é uma verdadeira contribuição à educação popular e à democratização do conhecimento.
8. Direitos Humanos – Capila (Antônio Pereira Lima Sobrinho): grande ativista dos direitos humanos. Antônio Pereira Lima Sobrinho, conhecido como Capila, tem uma trajetória marcada pela luta sindical e pela defesa dos direitos dos trabalhadores. Com uma longa carreira como funcionário público e militante do Movimento Sindical, Capila também é um defensor das causas raciais e da cultura afro-brasileira. Sua participação em diversos coletivos e fóruns de combate ao racismo demonstra o seu compromisso com uma sociedade mais justa e igualitária.
9. Economia – Mirinha: mulher negra comerciante que se destacou no comércio da feira de Serrinha. Com seu trabalho dedicado em uma barraca de frutas e verduras, ela criou sua família e construiu um patrimônio, sendo matriarca da família Leite e uma das feirantes mais antigas da cidade. A sua trajetória, marcada pela superação e força, é um verdadeiro exemplo de resiliência e trabalho árduo.
10. Comunicação – Nilcley Santos Rocha: um dos maiores exemplos de inovação e dedicação na área de comunicação e design. Com graduação em História pela UNEB e especialização em Gestão Social e Políticas Públicas do Patrimônio Cultural pela UFBA, Nilcley é também co-fundador do Estúdio Ananse e designer gráfico. Seu trabalho reflete uma profunda conexão com a cultura afro-brasileira e a memória histórica, unindo sua capoeira e design para fortalecer a identidade e a expressão cultural.
11. Cultura Popular – Nego da Viola (Nêgo Violeiro): um verdadeiro guardião das tradições culturais de Serrinha. Nascido em 1985, ele cresceu imerso no samba de roda e no forró, aprendendo a tocar instrumentos como triângulo e zabumba. Ao longo de sua carreira, Nêgo tem se apresentado ao lado de grandes mestres da música nordestina e tem sido um importante formador de novos talentos. Seu trabalho como defensor da cultura afro-brasileira é um exemplo de como a música pode ser uma ferramenta de resistência e transformação social.
12. Educação – Isabelle Sanches: professora e atual diretora do campus da UNEB em Serrinha, é uma mulher negra e candomblecista que tem se destacado pela sua atuação e Estudos Étnicos e Africanos. Além de sua atuação na educação superior, Isabelle também é uma defensora da igualdade racial e das questões de gênero, utilizando sua posição para promover uma educação inclusiva e diversa.
13. Candomblé – Miguel Camay: jovem de terreiro e Tata Mavambo do Onzo Angorô Gangavulá, um militante LGBTQIAPN+ e produtor cultural comprometido com a preservação das tradições afro-brasileiras e com a pesquisa sobre juventudes e o comércio ancestral. Ele tem sido uma voz importante para a juventude negra e LGBTQIA+, promovendo a inclusão social e a valorização das culturas de matriz africana.
14. LGBT – Lua Luara: uma jovem trans negra de candomblé que tem se destacado pela sua luta contra a desigualdade social e pela valorização do lugar de fala das travestis e pessoas trans negras. Ela iniciou sua trajetória no Novembro Negro de Serrinha 2021, buscando representar a diversidade e a resistência de sua comunidade.
15. Terreiro – Yalorixá Conceição de Oxossi: uma verdadeira guardiana da fé e cultura afro-brasileira. Zeladora de Santo, ela tem se dedicado ao preservar das tradições do Candomblé em Serrinha. Sua liderança também se reflete no Projeto Ofá Cultural, que foi contemplado em programas de apoio cultural, demonstrando sua importância para a cultura afro da nossa região.
16. Cultura Popular e Umbanda – Frankinho (Pai Frank): líder religioso e cultural de grande importância para nossa cidade. Franklin Francisco Ramos, ou Pai Frank, é um Pai de Santo no Terreiro Palácio de Oxum, localizado no povoado do Guarani, em Serrinha. Com 38 anos, Frankinho iniciou sua jornada religiosa em 2008, aos 34 anos, sob a responsabilidade de sua Yalorixá, Eliene de Iansã. Em sua trajetória de 16 anos com o Terreiro de Oxum, Frankinho tem sido um grande exemplo de amor, responsabilidade e dedicação à religião de matriz africana. Além de seu trabalho religioso, ele é também um grande mestre do samba de roda, estando à frente do Grupo Samba de Roda da Paz, que preserva as tradições do samba de roda e da cultura popular. Sua contribuição para a preservação da cultura afro-brasileira e sua atuação na comunidade são inspirações para todos nós.
17. Homenageado Especial – Jamaica: coordenador do Movimento Negro Afro Jamaica de Serrinha. Ele tem dedicado 16 anos de sua vida à luta pela valorização da cultura negra e à organização do Novembro Negro. Jamaica é um líder incansável, que simboliza a resistência e a união de nossa comunidade.
Ascom Prêmio Odesse 2024 | Novembro Negro de Serrinha