22 de novembro de 2024 | BAHIA

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Socorrista cadeirante relata preconceito no início da carreira em Conceição do Coité: “Perguntavam como um deficiente iria ajudar as vítimas “

Quando ocorrem acidentes ou há necessidade de atendimento clínico em Conceição do Coité, uma das primeiras pessoas que vêm à mente da população é o socorrista Gildo Carneiro, 36 anos. Sua trajetória de vida mudou completamente há 16 anos, após um acidente de moto na BA-120 (Coité X Retirolândia).

Devido à precariedade no atendimento, Gildo sofreu lesões nas vértebras T4 e T5 e ficou paraplégico. Diante da tragédia, ele teve duas opções: seguir em frente ou se render à nova realidade. Gildo escolheu ser uma águia, destacando-se pela visão nítida e bem desenvolvida, e fundou a brigada de socorristas Águia Resgate, com o objetivo de ajudar outras pessoas.

Antes e depois do acidente

Não foi fácil. O capacitismo de alguns habitantes colocava em dúvida a capacidade de um cadeirante para socorrer vítimas em emergências. “Fiz todos os cursos e me profissionalizei. Logo que iniciei nas primeiras ocorrências com outra brigada da qual fazia parte, os parentes de algumas vítimas me questionavam como eu iria conseguir atender estando em uma cadeira de rodas”, relata Gildo.

Ao Portal Massapê, o socorrista contou que não ficou triste ao ouvir frases preconceituosas. “Simplesmente informei com toda educação aos familiares que minha deficiência não impedia de salvar vidas”, afirma.

Além de treinar todos os membros da equipe, Gildo precisou adaptar a ambulância, pois alguns voluntários que dirigiam não trabalhavam no período matutino, e os que trabalhavam, não sabiam dirigir. “Foi neste dia que decidi ser motorista da ambulância. Fiz adaptações no veículo e, a partir desse dia, não parei mais”, conta.

No total, Gildo contabiliza aproximadamente 3 mil atendimentos nos cinco anos de Águia Resgate. Respeitado na região sisaleira pela dedicação aos necessitados, ele relembra que há males que vêm para o bem e que tudo possui um propósito. “Se não fosse o acidente, nem estaria em Coité ou teria a ideia da aquisição da ambulância. Se não fossem essas palavras de quem achava que eu não tinha capacidade, provavelmente eu não teria essa força e essa garra em continuar servindo e fazendo o bem”, complementa.

Gildo Carneiro é um exemplo de superação e dedicação, mostrando que a verdadeira força está em não desistir e em transformar adversidades em oportunidades para fazer a diferença na vida das pessoas.

Capacitismo é crime!

A palavra “capacitismo” significa a discriminação de pessoas com deficiência, sua tradução para o inglês é ableism. O termo é pautado na construção social de um corpo padrão, sem deficiência, denominado como “normal” e da subestimação da capacidade e aptidão de pessoas em virtude de suas deficiências.

O Capacitismo é considerado uma forma de preconceito, comumente vindo de pessoas sem deficiência, que pré-julgam a capacidade e habilidades das pessoas com deficiência com base apenas no que elas acreditam sobre aquela condição.

O art. 88 da Lei número 13.146/15 criminaliza o capacitismo, prevendo as condutas de “praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência”.

Inclusão é lei

Muitas pessoas não sabem, mas a inclusão social é contemplada pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Ela é um conjunto de regulamentos que visam garantir os direitos das pessoas com deficiência, promovendo inclusão e cidadania para elas.

Além disso, o artigo 4 diz que “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.”

Redação com informações sobre capacitismo do site handtalk