24 de novembro de 2024 | BAHIA

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Influenciadora que faleceu após procedimento para aumentar bumbum teria pago R$ 3 mil e não foi alertada sobre riscos, diz delegada

A modelo brasiliense e influenciadora digital Aline Maria Ferreira (foto em destaque), de 33 anos, morreu nessa terça-feira (2/7), após passar por um procedimento estético na clínica Ame-se, em Goiânia. Segundo os familiares, a jovem teve infecção generalizada após aplicação de PMMA nos glúteos. O caso é investigado pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul).

Aline morreu em um hospital privado da Asa Sul, onde estava internada desde sábado (29/6). Antes, ela havia sido atendida no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

Testemunhas informaram à polícia que a modelo começou a passar mal logo após a intervenção estética feita pela biomédica Grazielly Barbosa, em Goiânia (GO), em 23 de junho deste ano. Os familiares lembram que a jovem voltou para casa, no Gama, e começou a ter febre e dor na barriga. Eles entraram em contato com a clínica, que recomendou apenas um remédio para dor de cabeça.

Na quinta-feira (27/6), Aline piorou e chegou a desmaiar. O marido a levou para um hospital particular na Asa Norte e, depois para o Hran, onde a jovem ficou internada por um dia e, depois, foi transferida a um hospital da Asa Sul.

A influenciadora Aline Ferreira, de 33 anos, pagou R$ 3.000 em uma aplicação de PMMA (polimetilmetacrilato) para aumentar os glúteos, segundo informações da Polícia Civil de Goiás.

O que se sabe:

“Em nenhum momento [a dona da clínica] esclareceu para a Aline quais seriam realmente os riscos daquela bioplastia de glúteos, ou seja, daquele aumento nos glúteos. Ela simplesmente falou que era um procedimento tranquilo, muito simples, que ela já tinha feito em outros pacientes e o resultado tinha sido ótimo”, disse a delegada.

Dona da clínica estava ‘se escondendo’ da família de Aline. Em coletiva, a delegada Débora Melo, da Decon (Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor), informou que a mulher — cujo nome não foi divulgado — também havia desativado os perfis em redes sociais. A suspeita foi presa na quarta-feira (3). O UOL tentou contato com a clínica por telefone e mensagem, mas não teve resposta.

Clínica não tinha alvará sanitário, nem responsável técnico. “É uma exigência para qualquer estabelecimento comercial na área de saúde e estética para esclarecer as atividades realizadas”, explicou a delegada. “Tem atividades mais simples — como micropigmentação e massagens— e tem atividades bem mais complexas, com a utilização de substâncias injetáveis, que trazem um risco para o paciente”.

Suspeita se dizia biomédica, mas não era formada na área. A dona da clínica nunca fez uma faculdade de biomedicina e não tinha registro no Conselho Regional de Biomedicina, de acordo com as investigações. “Ela nos falou que cursou até o terceiro período de medicina em uma faculdade do Paraguai. Mas isso foi há alguns anos, porque ela trancou o curso há três anos”, disse Melo

Dona da clínica não mantinha prontuários dos pacientes. Também não pedia exames prévios para realizar os procedimentos, nem fazia um contrato de prestação de serviços para formalizar a relação com os clientes. “Ou seja: a pessoa simplesmente chegava, pagava, fazia o procedimento e ia embora”, completa a delegada.

Responsável pode ter cometido ao menos três crimes ou infrações. A suspeita pode ser indiciada por exercício ilegal da medicina e penalizada por executar serviço de alto grau de periculosidade e induzir do consumidor ao erro a respeito da qualidade dos serviços e produtos oferecidos. Ela ainda será investigada por possível lesão corporal seguida de morte. “Precisamos ouvir várias pessoas”, conclui Melo

“Precisamos, sobretudo, esperar a conclusão do laudo pericial em relação à Aline, porque a certidão de óbito saiu como morte a esclarecer. A gente precisa saber se há como comprovar o vínculo entre a morte e o procedimento estético que ela realizou. Mas o que os parentes da vítima alegam é que Aline estava em perfeito estado de saúde até o momento em que ela fez o procedimento com o PMMA.” – Débora Melo, delegada responsável pela investigação.

Infrações cometidas

Débora Melo afirma que, até o momento, já foram constatadas três infrações cometidas pela dona da clínica. A primeira é o exercício ilegal da medicina, pois ela “performa diversos procedimentos que são autorizados apenas para a classe médica”.

A segunda infração, prevista no Código de Defesa do Consumidor, é executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente. “O PMMA, de acordo com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], só tem aprovação para correções de pequenas distrofias de pessoas que tenham passado por tratamento de poliomielite ou de Aids. Então, a Anvisa não autoriza a aplicação do PMMA para aumento de volume de glúteos”, diz a delegada.

A terceira irregularidade que teria sido cometida por Grazielly foi crime contra relação de consumo. “É proibido induzir o consumidor a erro a respeito da natureza da qualidade dos serviços ou produtos. Ela induzia os consumidores a erro porque dizia ter uma qualificação que ela não tem, porque ela não é biomédica. E em segundo lugar, porque ela não esclarecia para os pacientes os reais riscos daqueles procedimentos que ela estava realizando.”

Além dessas três infrações, a delegada destaca que está em andamento uma investigação para avaliar se houve crime de lesão corporal seguida de morte. “Precisamos esperar a conclusão do laudo pericial em relação à Aline. Porque a certidão de óbito saiu como morte a esclarecer. Então a gente precisa saber se há como comprovar o vínculo entre a morte e o procedimento estético que ela realizou.”

CNN tentou contato com a defesa de Grazielly da Silva Barbosa mas sem retorno.

Com informações de UOL, G1 e CNN