Data celebrada em todo Brasil, o dia das mães causa bastante comoção entre os familiares. Alguns comemoram, outros revivem lembranças daquelas que não estão entre nós. Apesar dos vários tipos de mães, elas compartilham de um sentimento indiscutível: o amor!
Entre tantos relatos, o Portal Massapê conheceu a história de uma mulher trans residente em Serrinha, região do sisal. Thayllen Lyris, 25 anos, vive a maternidade desde 2021 quando seu ex-companheiro, um homem trans, gerou seu bebê que hoje tem 2 anos de idade.
“Tive um relacionamento de 4 anos com o pai do meu filho e a maior vontade de ter o bebê, partiu dele. Confesso que antes do casamento, eu não tinha muita vontade, pois como estou em um corpo masculino, achava inviável encontrar um homem trans para gerar uma criança. A única opção ao me ver, seria adotar. Mas tudo mudou com a chegada do meu ex”.
Impacto da gestação!
O medo do preconceito e a falta de apoio ficaram em segundo lugar, quando a decisão de Thayllen e o pai de Apollo Jacob ao engravidarem, foi tomada.
“O nosso sonho era ter uma família e não focamos no que as pessoas iam falar! Sentamos, conversamos e chegamos a conclusão que iriamos enfrentar a sociedade em prol do nosso bem precioso. Quando aconteceu e verificamos que o teste de gravidez deu positivo, nos questionamos apenas como iria ser a questão dos exames, pois estamos num município onde a população é acostumada a ver essa situação apenas pela internet”, relembra.
Apesar do receio, Thayllen recorda que tudo se tornou leve nesse processo, porque ela e o pai do bebê, estavam quebrando o padrão que somente casais tradicionais podiam ter filhos.
“Somos uma família fora do padrão, mesmo eu não estando junto com o pai de Apollo”, comemora.
A gravidez
Durante o pré natal, cuidado de saúde recomendado para todas as gestantes, a mãe de Apollo relatou que passou poucas e boas com alguns integrantes da equipe médica, quando chegava com o pai do bebê.
“Como era o pai de Apollo que gerava, um médico que precisava fazer o exame de toque se referia a ele como “ela”. Eu brigava muito nessa questão, porque pedia respeito a nossa história. Em contra partida, a maioria dos profissionais nos acolheram e deram todo suporte a nossa família”, enfatiza.
Nascimento de Apollo e o amor incondicional!
O momento mais delicado e ao mesmo tempo mágico foi o nascimento do bebê, segundo Thayllen. Ela afirmou que na ocasião quando teve o primeiro contato, não conseguiu aceitar que era seu filho.
“Fiquei em choque e não tinha caído a ficha que era meu filho! Minha mãe que sempre apoiou as minhas decisões, me deu esse suporte. Ela ficou com Apollo até eu me restabelecer e o momento mais incrível da minha vida, foi quando olhei para o rostinho dele. Emocionante! Comecei a chorar e entendi que mesmo não gerando na barriga, sou mãe de coração e alma. O sentido da vida começou a partir daquele ano”, falou emocionada.
Arrependimentos!
Thayllen é bem enfática: “Nunca! Faria tudo novamente quantas vezes fosse possível para ver meu bebê nos meus braços. Passei pelo processo muito difícil, desde o término do relacionamento, no qual entrei em depressão, olhares de julgamentos, até o nascimento de Apollo. Precisei parar de tomar os hormônios por conta da transição, para fornecer o material genético e hoje tenho certeza de que foi a melhor decisão que escolhi na vida. Descobri através do meu filho o que é o amor verdadeiro. Meu filho não nasceu de mim, eu nasci dele”.
A verdadeira história de Apollo!
Thayllen garantiu que não pretende esconder nem uma vírgulaga da história do filho, pois ele merece saber tudo que se passou.
“Quando ele tiver idade de entendimento, contaremos tudo, inclusive meu foco em fazer a cirurgia de redesignação sexual. Nosso Apollo merece!”
Mãe é mãe!
Pelo segundo ano, Thayllen viverá a comemoração do dia das mães junto ao pequeno Apollo. Ao Portal Massapê, ela relatou que as pessoas continuam com essa ideia de que ser mãe, é aquela que engravida, amamenta, mas ela vê o fato de ser uma mãe trans, ainda mais difícil.
Thayllen e sua mãe, avó de Apollo
“Para uma mãe que adota, as pessoas não levam à risca e inserem na maternidade, mas para uma mulher trans, tentam descredibilizar, pois acham que somos um homem com vestimentas de mulher. A sociedade precisa entender que temos amor no coração! Temos capacidade de cuidar tão bem de um bebê, quanto uma pessoa que gera. Portanto, me sinto a mulher mais feliz do mundo ao saber que tenho meu filho e que ele vai possuir todos os sentimentos bons que tenho oferecido”, conclui.
Por Rafaela Rodrigues
Foto: Arquivo Pessoal