O Corinthians anunciou um terceiro uniforme durante coletiva de imprensa realizada na noite de quinta-feira (2) no Centro de Treinamento (CT) do clube paulista, localizado no Parque São Jorge, em São Paulo (SP). A nova peça representa a luta do movimento antirracista.
Sob o mote da campanha “Nossa história é uma página em preto”, a iniciativa ocorre em um contexto no qual cerca de 40% dos jogadores e profissionais que atuam nos principais campeonatos do país já sofreram racismo.
Com a cantora Paula Lima e o jornalista Jairo Nascimento como mestres de cerimônia, o evento contou com a presença de personalidades, ex-jogadores e atletas do elenco atual. As camisas foram apresentadas pelo artista Jotape e pela jogadora Carol Nogueira, que celebrou a ação do Corinthians.
Em entrevista à Alma Preta, a atleta do time feminino conhecido como “as brabas” ressaltou a importância da ação para as próximas gerações. “A cada dia as pessoas estão se conscientizando mais e a camisa fala por si só, ela é toda preta. Ela mostra e prova mais uma vez que as pessoas pretas têm voz, tem espaço e elas podem estar onde quiserem”, pontuou.
Apesar de ser o segundo uniforme, o Corinthians e a Nike optaram por estrear a versão inteiramente preta neste sábado (4), no próximo jogo contra o Fortaleza, na Neo Química Arena. Já a camisa principal, predominantemente branca, entrará em campo ao longo do Campeonato Brasileiro.
Inspirada pela cultura da diáspora africana, a tipografia é complementada por uma textura baseada em símbolos Adinkras de origem ganense. Segundo os organizadores, essa abordagem visual celebra a grandeza e a força do time, honrando sua história e flertando com o afrofuturismo.
Dentro da gola, à altura do pescoço, um emblema com uma mão pintada em preto e branco traz a inscrição “Tamo Junto e Misturado”, representando a importância da união de todos no combate ao racismo.
Iniciativas de combate ao racismo
Nos últimos anos, o Corinthians tem divulgado diversas ações antirracistas que visam conscientizar torcedores, atletas experientes e jogadores da base. Para ampliar as iniciativas, o time firmou uma parceria com o Observatório da Discriminação Racial do Futebol (ODRF).
Em entrevista, o diretor do observatório, Marcelo Carvalho, explicou a importância do trabalho realizado pela instituição ao apontar que, aos poucos, os times brasileiros perceberam a importância de trabalharem juntos.
“Esse evento significa uma vitória. O observatório começou a mapear os casos de racismo falando de fora dos clubes de futebol. Aos poucos, os clubes entenderam a necessidade de nos ouvir e incorporar o que estamos mostrando”, disse.
“Estamos falando além de uma denúncia de um caso individual de racismo, mas de uma estrutura extremamente racista, de uma necessidade de você educar os seus atletas da base, não só os atletas negros, educar todos os atletas para que eles entendam que o racismo não é só um insulto, um xingamento de macaco, tem outras tantas camadas do racismo que nos atravessam no dia a dia, que todos precisam entender, porque se não, não protege, não acolhe”, completou.
Ao lado do observatório, o Corinthians e a Nike promoverão sessões de letramento racial para atletas das categorias de base, elencos profissionais e funcionários. Já em colaboração com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), o clube lançará um edital em 15 de maio.
A ação vai proporcionar bolsas de estudo integrais para 20 jovens negros no curso de administração da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), no qual contará com disciplinas voltadas para o mercado esportivo. Os estudantes também receberão auxílio financeiro e apoio psicossocial durante o período de graduação.
Alma Negra