Após sair nos noticiários de todo o Brasil depois que resolveu adotar os filhos da amiga assassinada, uma mulher natural de Conceição do Coité resolveu desabafar um drama que jamais esquecerá.
Valdelice Almeida, 46 anos, conhecida por Val da Mansão, carrega desde a infância as marcas no corpo e na alma de um abuso sexual feito pelo próprio pai.
Tudo começou quando Val tinha apenas sete anos, período em que a mãe separou do pai devido às constantes brigas devido à infidelidade no relacionamento.
Com a separação, o pai de Val começou a visitar as filhas constantemente, dando início ao período de terror enquanto era criança.
“Meu pai tinha várias mulheres e minha mãe não suportou. Nesta separação, mainha precisou sair para trabalhar. Diante disso, meu pai aproveitava o período em que ela não estava em casa e vinha para cometer os abusos. Após a ação, ele sempre ameaçava que iria me matar ou matar a minha mãe, caso eu contasse algo”, relembra emocionada.
Ainda de acordo com Val, muitas vezes tentou fugir dos abusos, mas o pai conseguia correr e alcançar-lá, agravando a situação.
“Toda vez que eu conseguia fugir, ele me capturava e começava uma sessão de espancamento com bainha de facão antes de iniciar a prática sexual. Foi muito doloroso!”, conta.
O silêncio de Val durou vários anos até que, recentemente, antes da mãe falecer, ela resolveu revelar o segredo sóbrio.
“Quando minha mãe estava prestes a falecer, desabafei com ela e expliquei por que, durante todo esse tempo, tive repulsa ao meu pai. Ela chorou muito! Ficou devastada com a história, pois nunca imaginou que isso poderia acontecer. Tive muito medo dele matar ela e precisei me calar para proteger”, disse.
Quase três décadas depois, o pai de Val sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), ficando com várias sequelas.
Após a liberação do Hospital, o homem pediu que a própria filha que ele supostamente abusou cuidasse dele.
Sabendo da história e do histórico de saúde do pai, Val resolveu cuidar, ajudando em quase tudo que ele precisava. Aos prantos, ela desabafou o que não conseguiu fazer durante a rotina.
“Ajudei em tudo, mas, na hora de dar banho, simplesmente recuei! Fiquei em pânico, pois me lembrei do período em que eu era criança. É um trauma profundo”, desabafa.
Questionada sobre o motivo pelo qual resolveu cuidar do pai, ela foi enfática: “Não foi eu que errei com ele e sim, o contrário! Mesmo assim, o ajudei. Fiz minha parte e, pouco antes do último suspiro, ele me pediu perdão. Já era tarde demais! Meu pai, o homem que me fez coisas terríveis, morreu em meus braços após eu perdoá-lo”, conta.
Um alerta à sociedade!
Assim como supostamente aconteceu com Val, muitas meninas sofrem ou sofreram abusos por parte de familiares e conhecidos.
Dados levantados pela Fundação Abrinq apontam que, a cada 24 horas, o Brasil registrou 124 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes em 2022. Desde 2012, os números subiram ano a ano. Segundo a pesquisa, a cada quatro vítimas de violência sexual em território nacional, três são crianças ou adolescentes.
A desigualdade estrutural do Brasil está expressa nos números. A média diária de denúncias de abusos contra crianças e adolescentes pretos e pardos foi de 70 notificações. Já casos em que as vítimas são brancas e amarelas foram cerca de 43.
“Eu tive medo de morrer e ficar em pune. Achava que justiça não funcionava para gente pobre”, afirmou Val.
As estatísticas fizeram Val revelar o que sofreu para que outras pessoas consigam parar o agressor (a).
“É preciso ficar atento aos sinais! Observar o comportamento de cada um e orientar. O silêncio me custou caro e poderia ter tido um desfecho trágico. Mas, meu conselho é que não se calem por medo. Denuncie, seja quem for o abusador”, finaliza Val.
Portal Raízes