A cada hora, mais de 4.600 pessoas são alvo de tentativas de golpes financeiros no Brasil por meio de aplicativos de mensagem ou ligações telefônicas, normalmente com criminosos se passando por funcionários de bancos.
No mesmo período de tempo, cerca de 2.500 pessoas pagam por produtos na internet que acabam não sendo entregues, e outras 1.680 vítimas têm o celular furtado ou roubado no país.
Os números foram estimados pelo Datafolha e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a partir de uma pesquisa com 2.508 entrevistados em todas as regiões do país, entre os dias 11 e 17 de junho. O cálculo leva em conta a proporção de pessoas que relatam terem sido vítimas de crimes contra o patrimônio, num período de 12 meses, e o tamanho total da população.
Esses e outros resultados devem ser apresentados na próxima quarta-feira (14) durante o 18º Encontro Nacional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em Recife.
As estimativas levam a um número de crimes maior do que se vê nos dados oficiais. Mas a pesquisa Datafolha também mostra um alto índice de subnotificação dos crimes cibernéticos e até dos roubos e furtos de celular. Apenas 30% dos entrevistados que admitiram ter sido vítimas de golpes que envolveram Pix ou boletos falsos dizem que registraram ocorrência em delegacias, e 55% daqueles que tiveram o aparelho celular subtraído afirmam que fizeram BO, por exemplo.
“Um quarto da população com 16 anos ou mais no Brasil já tem convivido com esse fenômeno de tentativas de golpes, ou seja, a população hoje vive num ambiente bastante perigoso”, diz o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima. “Podemos tomar como exemplo toda ligação que recebemos de um número estranho e é alguém se passando por uma central de cartão de crédito, uma central bancária. Isso virou um inferno na nossa vida, é um fenômeno banalizado.”
Além de banalizado, representa um prejuízo financeiro de 25,5 bilhões à população em 12 meses. Esse é o valor estimado em danos causados apenas pelos golpes aplicados via Pix e boletos falsos, com base nos relatos dos entrevistados. Os roubos e furtos de celular, por sua vez, causaram um prejuízo estimado de R$ 22,8 bilhões de julho de 2023 a junho deste ano.
Mesmo aqueles tipos de crime que são menos frequentes, segundo o Datafolha, atingem uma grande quantidade de vítimas. O golpe da maquininha de cartão adulterada, por exemplo, vitimou 2,6% dos entrevistados. No entanto, isso representa uma população de 4,2 milhões e 482 casos por hora, em média.
Esse caso está entre aqueles com o maior potencial de prejuízo financeiro. As vítimas desse crime relataram ao instituto que perderam R$ 1.142 ao cair nesse golpe, em média.
Ao todo, 13 tipos de delitos aferidos pelo Datafolha provocaram um dano de R$ 186 bilhões à população. Nessa conta são considerados tanto o lucro dos criminosos quanto outros gastos causados à vítima —o custo de um novo celular para substituir um aparelho roubado, por exemplo
As tentativas de golpe virtual, especialmente via aplicativo de mensagem e ligação telefônica, atingem mais vítimas entre aqueles que ganham de 5 a 10 salários mínimos, têm ensino superior, moram em municípios com mais de 500 mil habitantes e concluíram o ensino superior.
Esse perfil é o alvo mais frequente de outros tipos de crime virtual. Entre aqueles que já tiveram dados pessoais vazados na internet sem consentimento, por exemplo, 22% ganham mais do que dez salários mínimos.
No entanto, proporcionalmente à renda da vítima, golpes e roubos de celular representam prejuízos muito maiores aos mais pobres. O Datafolha mostra que essa população também é altamente atingida pelos crimes patrimoniais no Brasil.
Entre aqueles que têm renda familiar até dois salários mínimos, 45% relatam que já foram vítima de algum dos 13 delitos listados pela pesquisa. Um em cada cinco indivíduos nessa faixa de renda afirma que sofreu tentativas de golpes financeiros via aplicativo de mensagem ou ligação telefônica.
“Estamos diante de uma nova realidade da criminalidade e da segurança pública no Brasil”, diz Lima. “O sentimento de invasão [provocado por esses crimes], de violência, é gigantesco. As pessoas se sentem completamente violadas, até porque o celular virou um espaço privilegiado da vida.”
Informações extraídas do site Agência Brasil
Foto: Tânia Rego