“A memória”, escreve o neurocientista Charan Ranganath em seu novo livro Why We Remember (“Por que nos lembramos”, em tradução livre), “é muito, muito mais do que um arquivo do passado; é o prisma através do qual vemos a nós mesmos, aos outros e ao mundo”.
Ranganath é professor de psicologia na Universidade da Califórnia, na cidade de Davis, e passou os últimos 30 anos explorando os processos cerebrais por trás da nossa capacidade de recordar, de lembrar — e de esquecer.
Ele argumenta que muitas das nossas suposições comuns sobre a memória são equivocadas; suas aparentes falhas muitas vezes surgem de seus recursos mais úteis, criando uma flexibilidade cognitiva que tem sido essencial para a nossa sobrevivência.
Ele conversou com David Robson, jornalista especializado em ciência, a respeito desse conhecimento de ponta sobre o cérebro e as maneiras através das quais podemos usar esse saber para fazer melhor uso de nossas mentes perfeitamente imperfeitas.
Seu livro está cheio de noções contraintuitivas. Vamos começar com a ideia da “aprendizagem baseada em erros”. Por que aprendemos melhor quando nos permitimos cometer erros?
Charan Ranganath – As memórias são formadas por meio de mudanças na força das conexões entre os neurônios. Algumas destas ligações não serão tão boas, enquanto outras serão mais fortes e eficazes.
O princípio da aprendizagem baseada em erros significa que, quando você tenta recuperar essas memórias, sua lembrança sempre será um pouco imperfeita.
E assim, quando o cérebro tenta extrair essa memória e você a compara com a informação real, essas redes podem enfraquecer os vínculos ruins e fortalecer os vínculos bons.
A implicação é que extrair o material que você está tentando aprender é a melhor maneira de aprender mais, porque expõe essas fraquezas e, portanto, dá ao seu cérebro a chance de otimizar essas memórias.
É por isso que técnicas de aprendizagem ativa — como dirigir por um bairro em vez de apenas procurá-lo no Google Maps, ou atuar em uma peça em vez de ler o roteiro repetidas vezes — são tão eficazes.